terça-feira, 1 de maio de 2012


A BUSCA DA FELICIDADE

O genial Oscar Wilde declarou sobre o dinheiro que “não traz felicidade, mas a diferença é tão pequena que é preciso um especialista para dizer”...

Pois parece que já temos os especialistas.

Recentemente, várias são as iniciativas que buscam pontuar e quantificar (se é que isso é possível) os níveis e graus de felicidade dos cidadãos estatisticamente.

Partindo de premissas econômicas e de desenvolvimento social, diversos estudos recentes têm buscado detalhar os níveis de felicidade da população.

Uma das iniciativas mais interessantes nesse sentido é, sem dúvida o FIB (algo como Felicidade Interna Bruta), sucedâneo do PIB, desenvolvido na década de 1970, consta que em 1972, no Butão, diminuto reino asiático com cerca de 700 mil habitantes, situado na região do Himalaia, a 3.000 de altitude, entre a China e a Índia (que viria a ser a inspiração para o reino perdido e perfeito de Shangri-lá, na obra de 1933 do britânico James Hilton, Horizonte Perdido) – e que hoje avalia, mede e aplica esse índice com tanta ou maior atenção quanto o próprio PIB. Ou mais: lá há o Ministério da Felicidade cuja missão é especificamente monitorar esse índice. Brincadeira? Não, felicidade por lá é coisa séria. Como de resto, aliás, nada deveria ser mais sério, em qualquer latitude.

Os princípios norteadores do FIB são descritos como: desenvolvimento econômico sustentável, preservação da cultura, conservação do meio ambiente e boa governança.

Recente pesquisa levada a campo pelo Governo butanês, revelou as prioridades apontadas pela população como essenciais para a composição da felicidade, que podem ser consideradas, por assim dizer, os desdobramentos operacionais daqueles princípios norteadores:  Segurança financeira, Acesso a estradas pavimentadas, Educação, Saúde, Bom relacionamento familiar. Em tempo: tomado estritamente pelo critério econômico, o Butão é um país pobre, com PIB menor, por exemplo, que o do município de Aracaju.

Para os que, como nós, não estamos habituados, esse modelo de avaliação de bem-estar social, de ambição holística, pode soar mero diletantismo, quase jocoso, no meio dos índices econômico-financeiros tradicionais, através dos quais oficialmente medimos nossos níveis de desenvolvimento e progresso.

A boa notícia, entretanto, é que a FGV está desenvolvido o FIB nacional. Inspirado no mesmo conceito do índice original, será constituído a partir de critérios e indicadores que levam em consideração aspectos relevantes ao bem-estar da população brasileira.

Os elementos balizadores do novo índice a serem utlizados como critérios da medição: Segurança, Saúde, Educação, Distribuição de Renda, Salários de homens e mulheres, Desigualdade Social, Expectativa de Vida, IDH (o índice de desenvolvimento humano em que o país consta hoje na 84ª. posição....), além do próprio PIB.

Um rápido parêntesis para dimensionarmos o tamanho do desafio – e da importância desse novo indicador, de ser levado muito a sério: a assimetria colossal entre o PIB e o IDH.

O Brasil é hoje a 6ª. economia do mundo, com um PIB de US$ 2.492 trilhões. Noves fora que a última previsão do FMI recoloca o Brasil atrás do Reino Unido no final de 2012, com US$ 2.417 tri contra estimados US$ 2.449 da atual 7ª colocada, com US$ 2.452 tri do fechamento de 2011. É um desempenho que assegura ao país posição no pelotão de frente da economia global, o que já é um dado em qualquer forum atual, especialmente se ainda considerarmos a proximidade para o 5º posto, a declinante França, com pouco mais de US$ 2.7 trilhões...

O que torna ainda mais espantosa a pífia 84ª posição atual em IDH (ainda que um posto à frente do ano anterior), mais especialmente ainda quando o ranking nos classifica na 20ª posição dentro da América Latina, atrás de titãs da envergadura de Barbados, Uruguai, Trinidad e Tobago, Antigua e Barbuda, Panamá e Cuba...

O IDH parte de 3 premissas fundamentais: expectativa de vida ao nascer (de onde se inferem os inúmeros desdobramentos naturais de qualidade de vida), educação (acesso ao estudo e conhecimento) e PIB per capita (ou, em bom português, distribuição de renda e justiça social).

A extraordinária coincidência de critérios que irão valorar o novo FIB com o IDH são um alento importante para que o país consiga perseguir os  níveis dos países que conseguem refletir, em suas economias, qualidade e satisfação de vida para sua população.

A esse propósito, aliás, inúmeros estudos recentes têm insistido em apontar uma incômoda assimetria – e, a partir de um certo ponto, completa dissociação - entre riqueza e felicidade, bem ao contrário dos cânones pelos quais muitas vezes pautamos nossas vidas profissionais, especialmente dentro da corrida executiva e corporativa.

Em suculento artigo publicado recentemente pelo Valor Econômico, o professor André Lara Resende (“Bem-estar e húbris”) cita pesquisa recente nos Estados Unidos para o Índice de Bem-Estar Gallup-Healthways, realizada através de observação diária de 1.000 pessoas e 450 mil respostas, que identificou que a partir de um determinado nível de renda em que condições de dignidade e inclusão sociais estejam garantidas, mais dinheiro não representaria mais satisfação, nem maior bem-estar.

E chegaram ao nível de encontrar um número: US$ 75 mil dólares de renda anual para uma família média padrão, para as áreas onde o custo de vida é alto, podendo variar, para baixo, em regiões de custo de vida mais econômico.

O dado e a conclusão são impressionante, porque desafiam extraordinariamente um paradigma quase inconsciente que costume mover – e acelerar – o mundo profissional, segundo o qual, quanto mais riqueza (e, portanto, maiores postos nas organizações, maior velocidade de ascensão na carreira etc), maior será o nível de satisfação pessoal e, por tabela, de felicidade.

Poucas vezes paramos para questionar a que custo. A que custo tanto crescimento, tanta progressão profissional, tanta volúpia de acumulação... À luz de descobertas como essa, será que não poderiamos arriscar e dizer: ao custo de nossa própria felicidade?

Não poderia haver argumento e momento melhor para reflexão. Quanto de qualidade real de vida estamos trocando e barganhando, quando não negligenciando, em troca de uns trocados a mais? Que ao final, ao contrário do senso ordinário difuso até agora, não trarão mais felicidade?

Brincadeiras à parte, por mais que possamos brindar à fina ironia de Oscar Wilde, esse é um assunto seríssimo. Porque – e muito possivelmente não por acaso – toda nossa riqueza nacional acumulada de 6ª maior economia do mundo (PIB) não reflete qualidade e bem-estar da população (84ª posição no IDH), assim como talvez, toda a nossa sofreguidão por mais riqueza pessoal esteja, ao contrário do que imaginamos, justamente jogando contra nosso próprio nível de satisfação e felicidade pessoal.

Com muito entusiasmo saudamos o novo índice FIB, para nos auxiliar a auferir a quantas anda nossa felicidade enquanto nação. Não poderia haver melhor oportunidade para pensarmos – seriamente – no assunto, também na esfera pessoal.


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