A
BUSCA DA FELICIDADE
O genial Oscar Wilde
declarou sobre o dinheiro que “não traz felicidade, mas a diferença é tão
pequena que é preciso um especialista para dizer”...
Pois parece que já
temos os especialistas.
Recentemente, várias
são as iniciativas que buscam pontuar e quantificar (se é que isso é possível)
os níveis e graus de felicidade dos cidadãos estatisticamente.
Partindo de premissas
econômicas e de desenvolvimento social, diversos estudos recentes têm buscado
detalhar os níveis de felicidade da população.
Uma das iniciativas
mais interessantes nesse sentido é, sem dúvida o FIB (algo como Felicidade
Interna Bruta), sucedâneo do PIB, desenvolvido na década de 1970, consta que em
1972, no Butão, diminuto reino asiático com cerca de 700 mil habitantes,
situado na região do Himalaia, a 3.000 de altitude, entre a China e a Índia (que viria a ser a inspiração para o reino
perdido e perfeito de Shangri-lá, na obra de 1933 do britânico James Hilton,
Horizonte Perdido) – e que hoje avalia, mede e aplica esse índice com tanta
ou maior atenção quanto o próprio PIB. Ou mais: lá há o Ministério da
Felicidade cuja missão é especificamente monitorar esse índice. Brincadeira?
Não, felicidade por lá é coisa séria. Como de resto, aliás, nada deveria ser
mais sério, em qualquer latitude.
Os princípios
norteadores do FIB são descritos como: desenvolvimento econômico sustentável, preservação da cultura, conservação do meio ambiente e boa governança.
Recente pesquisa levada a campo pelo Governo butanês, revelou as
prioridades apontadas pela população como essenciais para a composição da
felicidade, que podem ser consideradas, por assim dizer, os desdobramentos
operacionais daqueles princípios norteadores:
Segurança financeira, Acesso a estradas pavimentadas,
Educação, Saúde, Bom relacionamento familiar. Em tempo: tomado estritamente pelo critério econômico, o Butão é um país
pobre, com PIB menor, por exemplo, que o do município de Aracaju.
Para os que, como nós,
não estamos habituados, esse modelo de avaliação de bem-estar social, de
ambição holística, pode soar mero diletantismo, quase jocoso, no meio dos
índices econômico-financeiros tradicionais, através dos quais oficialmente
medimos nossos níveis de desenvolvimento e progresso.
A boa notícia,
entretanto, é que a FGV está desenvolvido o FIB nacional. Inspirado no mesmo
conceito do índice original, será constituído a partir de critérios e
indicadores que levam em consideração aspectos relevantes ao bem-estar da
população brasileira.
Os elementos
balizadores do novo índice a serem utlizados como critérios da medição:
Segurança, Saúde, Educação, Distribuição de Renda, Salários de homens e
mulheres, Desigualdade Social, Expectativa de Vida, IDH (o índice de
desenvolvimento humano em que o país consta hoje na 84ª. posição....), além do
próprio PIB.
Um rápido parêntesis
para dimensionarmos o tamanho do desafio – e da importância desse novo
indicador, de ser levado muito a sério: a assimetria colossal entre o PIB e o
IDH.
O Brasil é hoje a 6ª.
economia do mundo, com um PIB de US$ 2.492 trilhões. Noves fora que a última
previsão do FMI recoloca o Brasil atrás do Reino Unido no final de 2012, com
US$ 2.417 tri contra estimados US$ 2.449 da atual 7ª colocada, com US$ 2.452
tri do fechamento de 2011. É um desempenho que assegura ao país posição no
pelotão de frente da economia global, o que já é um dado em qualquer forum
atual, especialmente se ainda considerarmos a proximidade para o 5º posto, a
declinante França, com pouco mais de US$ 2.7 trilhões...
O que torna ainda mais
espantosa a pífia 84ª posição atual em IDH (ainda que um posto à frente do ano
anterior), mais especialmente ainda quando o ranking nos classifica na 20ª
posição dentro da América Latina, atrás de titãs
da envergadura de Barbados, Uruguai, Trinidad e Tobago, Antigua e Barbuda,
Panamá e Cuba...
O IDH parte de 3
premissas fundamentais: expectativa de vida ao nascer (de onde se inferem os
inúmeros desdobramentos naturais de qualidade de vida), educação (acesso ao
estudo e conhecimento) e PIB per capita (ou, em bom português, distribuição de
renda e justiça social).
A extraordinária
coincidência de critérios que irão valorar o novo FIB com o IDH são um alento
importante para que o país consiga perseguir os
níveis dos países que conseguem refletir, em suas economias, qualidade e
satisfação de vida para sua população.
A esse propósito,
aliás, inúmeros estudos recentes têm insistido em apontar uma incômoda
assimetria – e, a partir de um certo ponto, completa dissociação - entre
riqueza e felicidade, bem ao contrário dos cânones pelos quais muitas vezes
pautamos nossas vidas profissionais, especialmente dentro da corrida executiva
e corporativa.
Em suculento artigo
publicado recentemente pelo Valor Econômico, o professor André Lara Resende
(“Bem-estar e húbris”) cita pesquisa recente nos Estados Unidos para o Índice
de Bem-Estar Gallup-Healthways, realizada através de observação diária de 1.000
pessoas e 450 mil respostas, que identificou que a partir de um determinado
nível de renda em que condições de dignidade e inclusão sociais estejam
garantidas, mais dinheiro não representaria mais satisfação, nem maior
bem-estar.
E chegaram ao nível de
encontrar um número: US$ 75 mil dólares de renda anual para uma família média
padrão, para as áreas onde o custo de vida é alto, podendo variar, para baixo,
em regiões de custo de vida mais econômico.
O dado e a conclusão
são impressionante, porque desafiam extraordinariamente um paradigma quase
inconsciente que costume mover – e acelerar – o mundo profissional, segundo o
qual, quanto mais riqueza (e, portanto, maiores postos nas organizações, maior
velocidade de ascensão na carreira etc), maior será o nível de satisfação
pessoal e, por tabela, de felicidade.
Poucas vezes paramos
para questionar a que custo. A que custo tanto crescimento, tanta progressão
profissional, tanta volúpia de acumulação... À luz de descobertas como essa,
será que não poderiamos arriscar e dizer: ao custo de nossa própria felicidade?
Não poderia haver
argumento e momento melhor para reflexão. Quanto de qualidade real de vida
estamos trocando e barganhando, quando não negligenciando, em troca de uns
trocados a mais? Que ao final, ao contrário do senso ordinário difuso até
agora, não trarão mais felicidade?
Brincadeiras à parte, por
mais que possamos brindar à fina ironia de Oscar Wilde, esse é um assunto
seríssimo. Porque – e muito possivelmente não por acaso – toda nossa riqueza
nacional acumulada de 6ª maior economia do mundo (PIB) não reflete qualidade e
bem-estar da população (84ª posição no IDH), assim como talvez, toda a nossa
sofreguidão por mais riqueza pessoal esteja, ao contrário do que imaginamos,
justamente jogando contra nosso próprio nível de satisfação e felicidade
pessoal.
Com muito entusiasmo
saudamos o novo índice FIB, para nos auxiliar a auferir a quantas anda nossa
felicidade enquanto nação. Não poderia haver melhor oportunidade para pensarmos
– seriamente – no assunto, também na esfera pessoal.
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