domingo, 6 de maio de 2012


A NOVA LIDERANÇA 

Dificilmente haverá um ponto de equidistância e equilíbrio absolutos na relação empresa – funcionário, ou empregado – empregador, pela simples razão de que, embora a relação de interdependência seja óbvia, quem decide, ao fim e ao cabo, é quem tem o poder de contratar – e descontratar.
No entanto, essa gangorra tenderá mais ao centro sempre e quando a oferta de emprego crescer e na medida e proporção exatas da estabilização econômica e do desenvolvimento social. Quanto melhor andar a economia, mais equilibrada será essa relação.
Porque em um contexto econômico-social de maior desenvolvimento e estabilidade, chegamos próximos do ideal do “pleno emprego”, ou seja, o estágio em que há grande oferta de trabalho – na esteira do crescimento econômico – e, consequentemente, menores índices de desemprego.
É o reverso do que está acontecendo na Europa, habituada ao estado de bem estar social (o welfare state, decantado como ideário de uma sociedade com alto grau de maturidade econômica), que não está mais resistindo ao peso e ao custo social insuportável de uma população que não se renovou – poucos produzem para alimentar o Estado, que por sua vez sustenta cada vez mais e mais indivíduos, cujos direitos sociais garantiam, durante anos, que não precisariam mais produzir.
O resultado hoje na Eurozona é um desemprego beirando a taxa de 11% (só na Espanha, o caso mais crítico, já chegou a 24%), em um total de mais de 17 milhões de desempregados.
No Brasil desta até outrora improvável década, em que parecem finalmente haver soprado os ventos do desenvolvimento, estamos entrando em um período, senão ainda de “pleno emprego”, sem dúvida de muito menor desemprego e muito maiores oportunidades de trabalho. Em contraste com a declinante economia européia, o desemprego por aqui fechou 2011 em 6% (em ritmo de queda constante e consistente desde 2003, quando o índice era de 12,3%).
Há, inclusive, excesso de oferta em muitos casos, que não conseguem preencher novos postos de trabalho por falta de qualificação (engenheiros de todas as especialidades estão sendo importados para ocupar os novos postos de trabalho criados no país...).
Em um cenário de mais oferta de empregos, ganha força a mão de obra qualificada, em especial e, em geral, o trabalhador, que tem mais alternativas e que, portanto, pode trocar de posto de trabalho quando não mais lhe convier o atual.
Muito interessante, nesse compasso, observar que, além do quadro econômico favorável, a nova geração (a geração Y), é muito mais rápida e volátil em suas decisões profissionais, acelerando mudanças sempre que não estiver satisfeita em um determinado ambiente de trabalho. A antiga fidelidade da geração anterior, está sendo revista pelos Y, que têm menos tolerância e paciência com experiências que não sejam compensatórias e satisfativas em sua trajetória profissional.
Contexto econômico favorável e uma geração mais agressiva formam um novo modelo de profissional que, no mínimo, vai exigir muito mais atenção, consideração e dedicação das lideranças corporativas.
Sorte dos bons gestores e das empresas efetivamente empenhadas na valorização e realização de seus empregados. Azar dos que precisam ainda se valer da hierarquia e do peso do crachá para estabelecer seu padrão de conduta e autoridade.
Perdeu, playboy!
Durante muito tempo, empresas e gestores puderem se escudar na fragilidade da economia e na carência de postos de trabalho para desdenhar da atenção e valorização do ativo humano de seus negócios, com a confiança velada de que, afinal, todos os funcionários “precisam desse emprego” e, portanto, não importa muito o que fizermos ou deixarmos de fazer, eles não podem abandonar a empresa...
Essa perversa equação, tão inteiramente verdadeira que muitos “líderes” chegam a verbalizá-la (“eles precisam desse emprego...”) é tanto mais prevalente quanto mais frágil for a economia e mais instáveis forem as oportunidades de emprego. Bem ao contrário, é bem de ver, do cenário em que o Brasil está agora adentrando.
A nova liderança que se faz necessária para esses novos tempos é inspiracional, não autoritária. É baseada no exemplo, na postura, na atitude e no encorajamento pessoal de cada um dos membros da equipe de trabalho.
A cada vez mais, as organizações terão perfil mais horizontal e mais matricial e menos vertical. A figura do chefe vai cedendo lugar à do líder, que tem a habilidade de congregar e conduzir grupos diferentes e multidisciplinares de trabalho, fazendo primeiro – mostra o caminho, trilhando-o primeiro.
Por outro lado, a pergunta recorrente dos grupos de trabalho “what´s in there for me” não poderá mais ser desprezada: cada empregado quer e tem todo o direito de saber qual a recompensa (seja diretamente financeira, em forma de bônus ou aumento salarial, seja em forma de progressão funcional, seja em forma de novos projetos e responsabilidades, seja até na forma de um simples gesto de gratidão e reconhecimento da empresa, não importa) e qual a motivação para a realização de determinada tarefa.
A saída fácil de ordenar porque simplesmente o empregado tem o dever de obediência hierárquica, não vai mais funcionar. Porque, se o funcionário não estiver satisfeito com as respostas (ou falta delas), com os princípios e com os rumos do projeto ou da empresa, em um cenário de pleno emprego, simplesmente vai embora. É a inversão do ônus: cabe ao líder mostrar e convencer ao empregado que vale à pena ficar – e produzir com qualidade, junto ao grupo de trabalho.
Há certas coisas que acabam funcionando quando submetidas a pressão. Pois agora a pressão estará toda sobre as lideranças e os gestores, submetidos ao escrutínio diário da aprovação de seus liderados, aferida sob duas medidas: o incremento da produtividade e dos resultados e a fidelidade de seu grupo de trabalho.
E as duas medidas anda muito mais juntas do que parece: quem fica, é porque está feliz (os incomodados, literalmente, haverão de se mudar, com mais facilidade do que nunca) – e quem está feliz produz mais e melhor.
Simples assim. Em um novo conceito de gestão, ao mesmo tempo, o desafio e o bônus do novo líder:  provocar - e sustentar - o círculo virtuoso da felicidade produtiva.

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