A NOVA LIDERANÇA
Dificilmente haverá um
ponto de equidistância e equilíbrio absolutos na relação empresa – funcionário,
ou empregado – empregador, pela simples razão de que, embora a relação de
interdependência seja óbvia, quem decide, ao fim e ao cabo, é quem tem o poder
de contratar – e descontratar.
No entanto, essa
gangorra tenderá mais ao centro sempre e quando a oferta de emprego crescer e
na medida e proporção exatas da estabilização econômica e do desenvolvimento
social. Quanto melhor andar a economia, mais equilibrada será essa relação.
Porque em um contexto
econômico-social de maior desenvolvimento e estabilidade, chegamos próximos do
ideal do “pleno emprego”, ou seja, o estágio em que há grande oferta de
trabalho – na esteira do crescimento econômico – e, consequentemente, menores
índices de desemprego.
É o reverso do que está
acontecendo na Europa, habituada ao estado de bem estar social (o welfare state, decantado como ideário de
uma sociedade com alto grau de maturidade econômica), que não está mais
resistindo ao peso e ao custo social insuportável de uma população que não se
renovou – poucos produzem para alimentar o Estado, que por sua vez sustenta
cada vez mais e mais indivíduos, cujos direitos sociais garantiam, durante anos,
que não precisariam mais produzir.
O resultado hoje na
Eurozona é um desemprego beirando a taxa de 11% (só na Espanha, o caso mais
crítico, já chegou a 24%), em um total de mais de 17 milhões de desempregados.
No Brasil desta até
outrora improvável década, em que parecem finalmente haver soprado os ventos do
desenvolvimento, estamos entrando em um período, senão ainda de “pleno
emprego”, sem dúvida de muito menor desemprego e muito maiores oportunidades de
trabalho. Em contraste com a declinante economia européia, o desemprego por
aqui fechou 2011 em 6% (em ritmo de queda constante e consistente desde 2003,
quando o índice era de 12,3%).
Há, inclusive, excesso
de oferta em muitos casos, que não conseguem preencher novos postos de trabalho
por falta de qualificação (engenheiros de todas as especialidades estão sendo
importados para ocupar os novos postos de trabalho criados no país...).
Em um cenário de mais
oferta de empregos, ganha força a mão de obra qualificada, em especial e, em
geral, o trabalhador, que tem mais alternativas e que, portanto, pode trocar de
posto de trabalho quando não mais lhe convier o atual.
Muito interessante,
nesse compasso, observar que, além do quadro econômico favorável, a nova
geração (a geração Y), é muito mais rápida e volátil em suas decisões
profissionais, acelerando mudanças sempre que não estiver satisfeita em um
determinado ambiente de trabalho. A antiga fidelidade da geração anterior, está
sendo revista pelos Y, que têm menos tolerância e paciência com experiências que
não sejam compensatórias e satisfativas em sua trajetória profissional.
Contexto econômico
favorável e uma geração mais agressiva formam um novo modelo de profissional
que, no mínimo, vai exigir muito mais atenção, consideração e dedicação das
lideranças corporativas.
Sorte dos bons gestores
e das empresas efetivamente empenhadas na valorização e realização de seus
empregados. Azar dos que precisam ainda se valer da hierarquia e do peso do
crachá para estabelecer seu padrão de conduta e autoridade.
Perdeu, playboy!
Durante muito tempo,
empresas e gestores puderem se escudar na fragilidade da economia e na carência
de postos de trabalho para desdenhar da atenção e valorização do ativo humano
de seus negócios, com a confiança velada de que, afinal, todos os funcionários
“precisam desse emprego” e, portanto, não importa muito o que fizermos ou
deixarmos de fazer, eles não podem abandonar a empresa...
Essa perversa equação,
tão inteiramente verdadeira que muitos “líderes” chegam a verbalizá-la (“eles
precisam desse emprego...”) é tanto mais prevalente quanto mais frágil for a
economia e mais instáveis forem as oportunidades de emprego. Bem ao contrário,
é bem de ver, do cenário em que o Brasil está agora adentrando.
A nova liderança que se
faz necessária para esses novos tempos é inspiracional, não autoritária. É
baseada no exemplo, na postura, na atitude e no encorajamento pessoal de cada
um dos membros da equipe de trabalho.
A cada vez mais, as
organizações terão perfil mais horizontal e mais matricial e menos vertical. A
figura do chefe vai cedendo lugar à do líder, que tem a habilidade de congregar
e conduzir grupos diferentes e multidisciplinares de trabalho, fazendo primeiro – mostra o caminho,
trilhando-o primeiro.
Por outro lado, a
pergunta recorrente dos grupos de trabalho “what´s
in there for me” não poderá mais ser desprezada: cada empregado quer e tem
todo o direito de saber qual a recompensa (seja diretamente financeira, em
forma de bônus ou aumento salarial, seja em forma de progressão funcional, seja
em forma de novos projetos e responsabilidades, seja até na forma de um simples
gesto de gratidão e reconhecimento da empresa, não importa) e qual a motivação
para a realização de determinada tarefa.
A saída fácil de ordenar
porque simplesmente o empregado tem o dever de obediência hierárquica, não vai
mais funcionar. Porque, se o funcionário não estiver satisfeito com as
respostas (ou falta delas), com os princípios e com os rumos do projeto ou da
empresa, em um cenário de pleno emprego, simplesmente vai embora. É a inversão
do ônus: cabe ao líder mostrar e convencer ao empregado que vale à pena ficar –
e produzir com qualidade, junto ao grupo de trabalho.
Há certas coisas que
acabam funcionando quando submetidas a pressão. Pois agora a pressão estará
toda sobre as lideranças e os gestores, submetidos ao escrutínio diário da
aprovação de seus liderados, aferida sob duas medidas: o incremento da
produtividade e dos resultados e a fidelidade de seu grupo de trabalho.
E as duas medidas anda
muito mais juntas do que parece: quem fica, é porque está feliz (os
incomodados, literalmente, haverão de se mudar, com mais facilidade do que
nunca) – e quem está feliz produz mais e melhor.
Simples assim. Em um novo
conceito de gestão, ao mesmo tempo, o desafio e o bônus do novo líder: provocar - e sustentar - o círculo virtuoso
da felicidade produtiva.
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