Excelência: uma
questão de atitude
Quando Francisco Pizzarro consumou – a pretexto de expandir o mundo
civilizado – uma das mais incivilizadas barbáries perpetradas na história
ocidental, dizimando as últimas gerações de uma das mais desenvolvidas sociedades
ancestrais de que se tem notícia, muito de nossas maiores riquezas passou,
textualmente, a ser história.
Com efeito, após longas e impiedosas agressivas, a colonização espanhola
consolidava a conquista da América Andina, no final do século XVI. Dentre suas
mais famosas vítimas, a colonização Inca, finalmente abatida em 1571.
De uma civilização que observava e lia os sinais da natureza,
pacientemente, para replicar-lhe a sabedoria das construções naturais e
edificar, sob a inspiração dos efeitos da natureza, do sol, das matas, das
árvores e suas raízes agindo ao longo do tempo sob a superfície da terra e,
sobretudo, das impactantes montanhas andinas e sua soturna, silenciosa e
assustadora observação sobre tudo que se move abaixo de suas sombras, restaram
monumentos até hoje enigmáticos e inquietantes – além de espetaculares sob
todos os seus aspectos estéticos e arquitetônicos.
Mas, sobretudo, deixaram uma arquitetura humana. Pouco contemplada,
quase despercebida enquanto elemento de igual riqueza antropológica: o homem deste
quadrante da Terra, um herói sem as honras da vitória, um resiliente do tempo e
da história, orgulhoso de suas raízes e suas origens, ao tempo em que humilde e
dedicado ao serviço respeitoso e resignado, embora sempre reto e altivo, dos
que lhe venceram na quadra da história e lhes ocuparam terras e geografias, mas
por certo nunca lhes tomaram a alma e as raízes.
O homem andino tem um sabedoria ancestral, uma relação umbilical com as
montanhas e sua silenciosa e assombrosa ascendência sobre o seu destino: o deus
Apu, convidando permanentemente à reflexão e ao respeito quase reverencial
diante de sua grandeza, contraste impiedoso e sufocante para a fragilidade
humana.
Não é por casualidade que busco neste arremedo de antropologia as raízes
da excelência no serviço e no atendimento aos clientes.
O bom serviço é, antes que tudo, uma questão de atitude. É postura
interior e não de fachada. Toda a
arrogância de onde nasce a falta de atenção e respeito aos demais é também a
origem remota do serviço desatento e desrespeitoso aos clientes. Quem não está
interiormente convencido da nobreza que é bem servir aos demais, em quaisquer
instâncias da atividade humana e profissional, dificilmente irá ser capaz de
desempenhar com excelência um serviço. Simplesmente porque não acha que deva
mais respeito aos demais do que se atribui a si próprio.
A rendição incondicional da sabedoria andina à grandeza de suas
montanhas simplesmente ensina que somos todos pequenos demais, insignificantes
até, para justificar qualquer arrogância em nossa postura ...
Foi apenas em 1911 que o arqueólogo americano Hiram Bingham descobriu
uma cidade inteira e intacta, abandonada quatrocentos anos antes, resumindo em
si o espírito de uma civilização que por ali vivera há 1.000 anos atrás. Machu
Picchu, a cidade perdida dos Incas é muito mais do que a grandeza de seu
monumento e o mistério de sua preservação: é a chave para entender o arquétipo
de um povo que viveu buscando pacientemente entender a capturar os sinais da
natureza, como primeira noção de respeito em suas atitudes.
Foi há 3.400
metros de altitude, sob os imagináveis rigores do
inverno a essa altura, em Cuzco, antiga
e arrebatadora capital do império Inca que descortinou-se, improvável, o mais elevado nível de qualidade de serviço
possível em qualquer altitude ou latitude. às 11:30hs da noite, cozinha do
restaurante fechada, garçons em processo de troca de uniformes, uma solicitação
que não esperava ser atendida: será que ainda poderíamos pedir uma pizza?....
A resposta, muito mais no brilho dos olhos e da face do que no texto: “SI,
PORQUE NO?!?!!
Por que no?? Bueno, talvez porque a cozinha do restaurante já estivesse
fechando.... talvez porque todos os garçons já estivessem sem uniforme...
talvez porque o horário de atendimento houvesse claramente estabelecido que o
restaurante já estaria fechado.....
Todas as alternativas corretas. E isto é o que faz exatamente a
diferença: contra todas as cômodas negativas, essa resposta iluminada vai além
do prometido, para entregar a excelência. A excelência da atitude. De SEMPRE
servir: “si, porque no?!?”
Ninguém se atreverá a elencar a pizza de Cuzco dentre as melhores do
planeta, sabedores (e orgulhosos) que somos de que a pizza de São Paulo é a
melhor do mundo. Mas aquela, na gélida e altíssima noite aos pés da cidade
sagrada dos Incas, definitivamente não será mais esquecida.
Boa pizza. Excepcional atendimento. Nada se compara a essa combinação. Um
serviço executado com excelência ficará sempre na história. E, claro, na
fidelização e recorrência dos clientes.
Não há treinamento executivo, MBA em Harvard ou Michigan que prepare
melhor. Excelência no serviço, o grande e verdadeiro diferencial de mercado do
mundo moderno é, antes de tudo e mais do que nunca, uma questão de ATITUDE: Si,
porque no?!
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