A CEREJA E O BOLO
A
perseguição de diferenciais e atrativos de valor agregado é ponto crítico
dentre os desafios de qualquer negócio contemporâneo.
Do
sofisticado mercado financeiro ao mais prosaico segmento de comércio, o nome do
jogo é diferenciação para atrair e reter os melhores clientes.
Pois
é de uma pizzaria da Coréia que chega a notícia de um interessantíssimo
diferencial, cuja notícia correu o mundo nos últimos dias.
Um
novo cardápio com tecnologia de ponta, permite ao cliente tocá-lo sobre o sabor
eleito da pizza para comandar seu pedido. A pizzaria então recebe a mensagem
eletronicamente e retorna uma mensagem de texto SMS ao cliente, para
confirmação da ordem. Uma verdadeira, por assim dizer, pizza cibernética.
Não
surpreende que a notícia venha da Coréia que, de maneira exemplar, consagrou-se
em uma invejável posição de inovação e liderança tecnológica, após de décadas
de investimentos continuados, estrategicamente definidos como políticas de
estado, em Educação.
De
resto, é uma inovação essencialmente de aproveitamento de técnicas de inovação
tecnológica.
Honestamente,
achei a novidade muito interessante. É, sem dúvida, um diferencial inovador.
Após
fazer coro aos animados comentários dos analistas que tratavam a notícia, como
uma diferenciação capaz de atrair e reter os clientes pela comodidade,
conveniência e pelo próprio sabor da novidade, voltei-me para minha experiência
de consumidor, tratando de imaginar a novidade transposta para a minha própria
cesta (respeitável, diga-se) de cardápios de entrega de pizza.
Como
poderia ser interessante olhar para a foto desse novo cardápio, clicar sobre
ela e imediatamente ter meu pedido enviado e processado pela pizzaria. Então
pensei que, de fato, a novidade, de fato, poderia me atrair à primeira compra.
Quanto mais não fosse, por curiosidade e pelo inusitado, conclui que gostaria
de experimentar o sistema.
Mas e depois? E se a pizza não fosse boa?...
Mas e depois? E se a pizza não fosse boa?...
Não
haveria novidade teconologica ou diferencial de atendimento que pudesse substituir,
superar ou corrigir a falta de qualidade do produto objeto do consumo, no caso
a pizza. No fundo e antes de mais nada, o que tem que ser bom é o produto, em
sua essência característica. A pizza tem que ser boa! Não é por conta de um
diferencial fundamentalmente perifério à sua essência (ou seja, que não tem
nenhuma relação com a efetiva qualidade da própria pizza) que serei levado a
consumí-la.
Parece
óbvio e talvez mesmo por isso muitas e tantas vezes os aspectos básicos,
essenciais e característicos dos produtos são negligenciados, descuidados,
esquecidos, enquanto criamos mirabolantes diferenciais – periféricos.
Desde
que a corrida frenética pela competição no varejo financeiro e no mercado de
cartões começou – no Brasil, notadamente, após a estabilização da moeda, na
segunda metade da década de 90, mas nos Estados Unidos, por exemplo, já a
partir da década de 80 – temos dedicado significativa parcela de tempo,
recursos e investimentos à busca de diferenciais competitivos.
Todas
as novidades de última hora passaram a interessar e a mobilizar nossa gestão
para viabilizá-las e implementá-las.
O
negócio de cartões tem sido especialmente pródigo nesse capítulo. Tantos são os
benefícios, prêmios, recompensas e que tais, que a maoria dos clientes não conhece
(e tanto menos utiliza), nem a metade.
Desde
a virada da década de 1990 para 2000, quando percorriamos os Bancos da América
Latina com os projetos de consultoria e melhores práticas da Visa
Internacional, ante audiências ávidas pelas últimas novidades dos Estados
Unidos em diferenciais, benefícios e recompensas, apresentavamos a conclusão
dos estudos mais recentes que, ao invés de orientar a novidades, trazia uma
resposta supreendente: o que os clientes mais desejam em seus cartões É QUE
ELES FUNCIONEM.
Nem
mais, nem menos: que funcione. No caso da pizza, que seja boa. No caso dos
cartões, que sejam aceitos na hora da compra, sejam aprovados no ponto de
venda, tenham suas faturas emitidas corretamente e entregues no prazo e suas
cobranças devidamente processadas e liquidadas.
Só
isso? Não. Mas sem isso, nenhum diferencial
fará a satisfação – e a fidelização - dos clientes.
Tendo
isso em conta, porque o postulado permanece mais válido do que nunca, é muito
importante que nossos recursos, tempo e investimentos estejam aderentes e
coerentes com a solidez e qualidade das funcionalidades essenciais de nosso
produto, de suas características fundamentais. Uma boa e saborasa pizza é
fundamental para o sucesso do negócio. Condição talvez não suficiente, mas
condição absolutamente necessária. Já a forma de solicitação inovadora não é
essescial, não é definidora do hábito do consumidor – e nunca será, a menos que
a essência do produto (a pizza), tenha qualidade.
No
caso do varejo bancário e dos cartões, dentre os atributos essenciais e
fundamentais está, por exemplo, o atendimento. Será que podemos dizer com
segurança que atingimos o estado de excelência nesse quesito? Vale refletir
sobre isso: não há milhagem, promoção, desconto e propaganda capaz de reverter
uma má experiência de uso e de atendimento.
Em
que pese a enorme pressão por inovação e diferenciais, a máxima permanece
verdadeira: não é a cereja, mas o bolo que interessa.